domingo, 9 de fevereiro de 2014

Teoria De Ser Alguém

És, primeiramente, um montante. De carne; de ossos; e incompleto. Partes do princípio como nos enredos atuais, mas faz trocas com o passado. O personagem central de um emaranhado de evoluções. Lentas em umas, aceleradas em outras. Vagas pela terra sem saber sobre a existência divina de qualquer espécie e se auto-intitulando agnóstico. O legítimo "em cima do muro" popularmente conhecido. Resmunga por muita coisinha que poderia deixar pra lá. Consegue às vezes, mas nem sempre. Os impulsos nervosos nunca param, e são implacáveis quando se diz respeito ao que você é.

Tens controle parcial do que te forma; do que te faz se comportar. O restante fica por conta do inalcançável. Isso é um segredo que não te contam. Há quem não saiba do fato também, por ora. O todo de alguém é parte de um sistema de engrenagens complexas. No princípio, precisas de parte desse sistema. Apenas o suficiente. Ao crescer, experiências acumuladas significam peças a mais de maturidade e evolução na mala. O peso aumenta anualmente, e fica mais cansativo carregar. Pelo caminho, perde-se diversas vezes. Andas pelo caminho da inércia até voltar a se encontrar novamente na outra quadra; ou a várias de si.

Diante de todas as lições aprendidas duramente até então, o sistema te gratifica com novas versões de princípios. Softwares cerebrais atualizados. E, bingo! Eis que manteve a essência viva, mas apresenta ao mundo aparelhagem nova. Assumes o posto de um ser adulto, independente, auto-suficiente e cheio de compromissos. Os lábios expressam outros significados mais sombrios. Tudo tem o "mais". Mais malícia, rebeldia com ou sem causa, ansiedade, crise, prazer, frieza, individualismo, responsabilidade, trabalho, aperfeiçoamento, escolha, decepção.

Sofres um desgaste natural com todo esse decorrer de fatos que são exteriorizados através da pele flácida e olhar defesso. Começas a cansar e deixar para lá certas coisas que antes faziam sentido no dia a dia. Inclusive esqueces-se de algumas. Até o dia em que dá-se conta de que o tempo passou em um piscar de cinco anos que mais pareceram, relativamente, poucos meses. E como é invencível. A mente fica um redemoinho só. Lotada de caminhos férteis e verdejantes; e outros que levam a cemitérios onde tuas memórias mais indesejáveis descansam tirando-te a paz. Se tens sorte, aprendes a calibrá-las para benefício próprio. Por fim, e por sorte, o tempo toma conta do espaço e ameniza traumas já antiquados ao seu novo "ser alguém".

O grande desafio de uma boa evolução requer um treinamento pesado, diário, crítico. Nossa espécie vive tão pouco tempo para tal maravilha. Uma lástima aceitar. Somos cheios de tudo e nos entediamos por isso também. Pobres sonhadores. Alvos tão vulneráveis aos caprichos e meias verdades do relógio, que só em ouvir o tic-tac, disparam jatos de ansiedade a cada bombeada. Buscamos respostas. E passamos a nossa existência vivendo e vivenciando ciclos. Até o fim.

Lucas Zeni

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